Construtoras de Balneário Camboriú se reinventam para manter o mercado aquecido na recessão!
03/05/2016
o topo de seus glamourosos arranha-céus, a construção civil de Balneário Camboriú exibe força diante da crise econômica que atinge o país. Enquanto grande parte das empresas do ramo projeta redução nas atividades e no número de pessoal para os próximos meses, na cidade batem-se recordes de crescimento, criam-se estratégias para atrair endinheirados e planejam-se lançamentos que causam euforia no mercado.
O motivo de tanto sucesso: 95% dos quase 2 mil unidades habitacionais em construção hoje são voltados para o mercado de alto luxo. Os valores podem ser tão superlativos quanto o tamanho dos empreendimentos, variando entre R$ 1,5 milhão e R$ 30 milhões – dependendo da localização e metragem.
– O metro quadrado de área total em Balneário custa em média R$ 10 mil. Os imóveis têm que ser voltados para o mercado de luxo – explica o presidente do Sindicato da Indústria da Construção Civil (Sinduscon), do município, Carlos Humberto Silva.
São apartamentos esculpidos para um público que não sofre com a crise. Segundo Silva, o que eles querem é opções de investimento cada vez mais rentáveis e seguras – e, para eles, Balneário atende a essa expectativa. No ano passado, a valorização dos imóveis foi de 15%, segundo o Sinduscon.
Para 2016, a estimativa da entidade é que esse número
chegue a 20%.
– Sofremos uma redução nos últimos três anos, mas que nada tem a ver com a crise, e sim com revisão do Plano Diretor que fez a prefeitura parar de aprovar projetos. As demissões desse período ocorreram por conta desse protocolo fechado. No geral, o setor não sentiu a recessão: continuamos vendendo bem, com liquidez e preço – afirma.
De acordo com o Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged), a construção civil teve uma variação negativa de 10% no número de empregos em 2015 na cidade. Nos três primeiros meses do ano, a prefeitura aprovou cerca de 50 projetos, entre análises, unificações e substituições. No mesmo período, foram 190 projetos protocolados.
– O decreto suspendendo a aprovação de projetos durou mais de dois anos. Essa medida equilibrou o mercado e o estoque de imóveis, mas decidimos começar a liberar os projetos porque isso já estava afetando as empresas – argumenta o secretário de Planejamento de Balneário, Fábio Flor.
Vendendo o estilo Balneário
Mais do que oferecer imóveis lucrativos, as construtoras do Litoral vendem aos clientes a estrutura turística e comercial de Balneário Camboriú – cidade pequena com ares de metrópole. Este foi um dos motivos que influenciaram a psicopedagoga Darly Andreola e o marido a comprar um apartamento
no município:
– O comércio é muito dinâmico, a qualidade de vida é alta. Temos amigos que têm casa aqui e eles adoram.
Morador do interior do Paraná, o casal buscava um local com ampla estrutura de lazer e bom custo-benefício. Acabaram optando por um empreendimento às margens do Rio Camboriú, já mobiliado e com vaga para embarcação.
– Como a nossa intenção é futuramente ter um barco, compensou bastante. Por enquanto será nossa segunda casa, mas já estamos planejando morar definitivamente aqui – conta.
Assim como Darly, a maioria dos compradores em Balneário faz da cidade sua segunda moradia e, curiosamente, os apartamentos comprados por aqui acabam saindo mais caros do que a residência fixa. Os principais investidores vêm do Paraná, Rio Grande do Sul, São Paulo, da Região Centro-Oeste, além de Argentina e Paraguai.
DO ALTO
Vista de parte da Barra Sul dá uma ideia do ritmo frenético da construção civil no município
construtora Pasqualotto & GT diz que não sentiu diminuição nas vendas em função da crise. Uma das justificativas é que o mercado de luxo de Balneário atende o país e o exterior, por isso a demanda se manteve. O diretor Alcino Pasqualotto diz que, como alternativa, a empresa focou na prospecção de clientes do agronegócio – que estão faturando mais com a alta do dólar.
– Nesse caso, a gente acaba indo visitar alguns desses clientes porque no período da safra eles não têm como vir. Mas já recebemos pedidos, inclusive, para atender nos Estados
Unidos – conta.
Os clientes da construtora também têm uma vantagem para economizar tempo e conferir de perto as obras. Podem vir de avião ou helicóptero e utilizar o hangar da empresa, localizado entre Itapema e Porto Belo. Para conhecer o Yachthouse – empreendimento em obras junto à Marina Tedesco –, os empresários podem, inclusive, fazer um sobrevoo pelo local.
Essas facilidades, segundo Pasqualotto, fizeram com que as torres fossem bastante procuradas – inclusive por famosos, como os jogadores Neymar e Luiz Gustavo, e os cantores Luan Santana, Alexandre Pires e Sorocaba. Alcino diz que está a 15% de atingir a meta de vendas de apartamentos na planta do empreendimento.
As unidades do Yatchthouse têm entre 250 metros quadrados e 520 metros quadrados, além de ampla área de lazer e assinatura do estúdio Pininfarina – conhecido por desenvolver linhas de carros como Ferrari, Maserati e Rolls Royce. Depois de prontas, as torres estarão entre as mais altas do país, com 265 metros de altura.
– Temos 350 unidades em construção na cidade e estamos pensando em lançar em 2017 um complexo misto, comercial, residencial e hotel – comenta.
VISTORIA
Alcino Pasqualotto usa um helicóptero para mostrar obras aos clientes
ma das características que mudou no mercado imobiliário de Balneário Camboriú no período de crise foi a forma de negociação – unanimidade entre as construtoras. Uma venda, que antes se concretizava em 15 dias, agora tem se estendido por mais de três meses. Isso ocorre porque os investidores estão barganhando mais.
– O mercado foi criando alternativas para manter o aquecimento. Quem está ganhando com isso é o cliente que encontra mais facilidades, tanto em preço quanto em condição – afirma a diretora da Mendes Sibara, Natália Mendes.
A construtora, por exemplo, não cobra a mais do cliente para decorar o apartamento, apenas repassa o custo com o mobiliário. Segundo Natália, as campanhas também ficaram mais atrativas e os produtos ganham cada vez mais diferenciais. No caso da Mendes Sibara, a aposta para Balneário foi o Marina Beach Towers, com vagas para embarcações. O próximo lançamento, ainda neste ano, terá assinatura do artista plástico Romero Britto, na Praia Brava, em Itajaí.
Uma das pioneiras em Balneário, a Procave sentiu os efeitos da turbulência econômica e registrou queda de cerca de 10% nas vendas em 2015. Porém, nos primeiros meses do ano voltou a ter um bom volume de propostas e está otimista.
– Sempre lançamos produtos diferenciados e isso tem dá resultado num momento como esse. Você fica mais agressivo no mercado, faz negócio que não fazia no passado, facilita a negociação, além de atuar mais forte fora da cidade – afirma o diretor da Procave, Nivaldo Pinheiro.
pesar de todo status que Balneário Camboriú ostenta no mercado imobiliário, não foi só isso que garantiu às construtoras um mercado aquecido. Cada uma precisou se reinventar à sua maneira. Seja disputando o título de empreendimento mais alto do país ou oferecendo diferenciais luxuosos aos clientes, todas buscam alternativas para continuar atraindo consumidores.
A FG, que tem como garota-propaganda a atriz Sharon Stone, recentemente anunciou que alcançou o maior lucro líquido de sua história em 2015, com crescimento de 39% nas vendas em relação ao ano anterior. O valor, não divulgado, faz parte dos dados levantados pela consultoria Ernst & Young. Em 2016, a perspectiva é que o crescimento fique em torno de 14%.
Para manter o ritmo, o diretor comercial Altevir Baron conta que a empresa mudou a estratégia de vendas e apostou na variedade de produtos, com apartamentos que vão de R$ 1 milhão até R$ 17 milhões.
Hoje, a FG tem 13 empreendimentos em construção e 1.056 unidades em estoque:
– Dentro da área comercial foi montada uma estratégia para adequação dos produtos, com lançamentos de valor mais acessível, mas mantendo a qualidade da FG. Também adotamos um modelo de gestão mais adequado ao momento, criamos uma política de valorização da nossa equipe e apostamos no relacionamento com nossos clientes e investidores – observa.
A Embraed seguiu pelo mesmo caminho e reforçou o comercial junto a uma rede de mais de 400 imobiliárias e corretores – oferecendo incentivos aos vendedores.
A estratégia funcionou. Prova disso é que o último lançamento da empresa – o residencial Serendipity –, feito há menos de duas semanas, tem todas as unidades já vendidas. A presidente da construtora, Tatiana Rosa Cequinel, explica que o sucesso na comercialização do prédio de 45 pavimentos se deve ao preço dos apartamentos, que começam em R$ 1,3 milhão.
Para ela, o fato de a construção civil da cidade se manter forte em meio à crise também se deve à estrutura de serviços disponíveis em Balneário e à valorização dos imóveis, que em um de seus empreendimentos chegou a 300% em seis anos.
– O mercado está bom e acredito que vai melhorar porque a cidade está crescendo. As pessoas querem estar em
Balneário – comenta.
A Embraed deve lançar mais um empreendimento até o fim do ano e está fazendo estudos no exterior para apresentar o Embraed Tower, em um dos últimos terrenos de frente para o mar.
MIMOS
Imóveis decorados estão entre as vantagens oferecidas aos compradores
Fonte: http://www.clicrbs.com.br/sites/swf/jsc_sem_crise/